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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Primeiro Capítulo do livro "NEVE NO DESERTO": A Escuridão da Dúvida

     Depois de postar a introdução do meu livro "NEVE NO DESERTO", estou postando agora o primeiro capítulo.

     “Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa. Porventura tendo Ele dito não o fará, ou tendo falado não o realizará”?
(Números 23:19)

A ESCURIDÃO DA DÚVIDA
     Abraão, que até então se chamava só Abrão, estava no meio da sua parentela quando Deus lhe fez uma promessa de fazer dele uma grande nação. Este homem já com seus 75 anos e com sua esposa, uma mulher de 65 anos e estéril, cumpriu a ordem de Deus. Saiu do meio da sua parentela e foi para a terra que o Senhor disse que daria a ele e a sua descendência (Gn. 12:1-9). Eu estava lendo o livro “Seis horas de uma sexta-feira”, de Max Lucado, em um capítulo onde o autor fazia uma abordagem de uma passagem da vida de Abraão que se encontra no texto de Gênesis 15, que por “coincidência”, eu havia acabado de ler. É o texto em que Deus, tendo chamado Abraão para fora de sua tenda, lhe prometeu que a sua descendência seria como as estrelas do céu (v. 5). Abraão creu nesta promessa e isto lhe foi imputado como justiça (v. 6).      Mas no verso oito, Abraão aparece com o que seria uma ponta de dúvida: “Ó Senhor Deus, como saberei que hei de herdá-la?” A partir do verso nove Deus dá uma direção para Abraão. Ele deveria tomar alguns animais e partindo-os ao meio deveria formar uma espécie de corredor com as partes dos mesmos, dispostas frente a frente. Aves de rapina apareceram e desciam sobre os corpos dos animais, mas Abraão as enxotava (v. 11). Muitas vezes, em nossas vidas, independentemente de que tipo de deserto estamos passando, o diabo lança suas “aves de rapina” para nos atrapalharem justamente quando estamos esperando obedientemente algo da parte de Deus. Essas aves de rapina vêm com sofismas para nos fazer desviar da direção que Deus inicialmente nos deu. Abraão não recebeu nenhuma resposta imediata de Deus. Só uma ordem, que até então pode nos parecer estranha. Mas ele simplesmente obedeceu. Quando as aves apareceram, ele tratou de enxotá-las e continuou esperando. Qual a atitude que temos tomado quando Deus nos dá uma ordem simples e quando estamos esperando dEle uma ação? Deixamos as “aves de rapina” se intrometerem e nos desviarem do caminho estabelecido por Deus para nos ensinar, ou as enxotamos incansavelmente e permanecemos na posição? São questionamentos importantíssimos que devem ser respondidos antes de prosseguirmos, pois no verso 12 vemos que Abraão, já caindo de sono, foi cercado de grande pavor e densas trevas. Eu estava passando por este momento justamente quando lia este texto bíblico, estava apavorado, com medo e sem esperança. E, na verdade estava repetindo o questionamento de Abraão: “Ó Senhor Deus, como saberei que hei de herdá-la?” Abraão e Marcelo, cada um com seu questionamento, mas com a mesma escuridão da dúvida a cercá-los.
     Quando o Senhor começou a falar para Abraão o que iria fazer, a partir de então, com ele e a sua descendência (v. 13-16), chegou a parte do texto em que, ao ser descortinada a revelação de Deus, caíram as escamas dos meus olhos e eu pude entender a verdade bíblica que já havia lido inúmeras vezes e não tinha entendido. “Ao se pôr o sol, houve densas trevas, e um fogo fumegante e uma tocha de fogo apareceram, e passaram por aquelas metades” (v. 17). Eu não havia compreendido nada, mas meu amigo Abraão sabia o que estava acontecendo. Já tinha visto esta cena diversas vezes, mas encenadas por homens. Fiquei imaginando qual teria sido a reação de Abraão ao assistir àquela cena.
Ao perceber o significado daquela cena fui cheio de temor e tremor. Na verdade eu fiquei apavorado por dias, por causa da força do que aquele momento assistido por Abraão significava. Naquela época a palavra empenhada por um homem tinha muito peso. Principalmente diante de testemunhas, pois a quebra deste acordo traria, com certeza, algum tipo de conseqüência ao que a quebrou. Quando dois homens queriam fazer um pacto, uma aliança, eles pegavam os animais (cordeiros, ovelhas, etc.), e tendo dividido-os ao meio, formavam um corredor com as partes dispostas frente a frente. Então passavam pelo meio deste corredor de animais despedaçados repetindo qual era a aliança que estava sendo feita e afirmando que acontecesse o mesmo com eles, que aconteceu àqueles animais se não cumprissem a palavra empenhada. Claro que, isto tudo, comumente diante de testemunhas. Mas mesmo que não houvesse quem assistisse ao fato, a aliança era feita diante de Deus. Deus mesmo valida esta palavra em Jeremias 34:18, quando diz que: “Entregarei os homens que violaram a minha aliança, que não cumpriram as palavras da aliança que fizeram diante de mim, tratá-los-ei como o bezerro que dividiram em duas partes, e então passaram pelo meio das duas porções”.
     Se você ainda não entendeu, vou explicar melhor: o fogo fumegante e a tocha de fogo eram na verdade o próprio Deus passando por entre as partes dos animais e fazendo aliança com Abraão. Era como se a cena estivesse acontecendo comigo e Deus passando entres as partes dos animais e fazendo aliança. Era como se Ele dissesse: Ei, Abraão! Ei, Marcelo! Olhem aqui eu falando de um jeito que vocês homens entendem. Que aconteça comigo o que aconteceu a estes animais se eu não cumprir a minha palavra. Tremo e temo só de escrever isto, pois é forte demais. “Deus não se deixa escarnecer” (Gl. 6:7). “Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa. Porventura não tendo ele dito não o fará, ou tendo falado, não o realizará?” (Nm. 23:19). O que ele prometeu ele vai cumprir, pois “tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Cristo Jesus” (Fl. 1:6). Ou seja, “Aquele que começou a boa obra é fiel para terminá-la”. Ele fez uma aliança com Abraão, Ele fez uma aliança com Marcelo, e Ele fez uma aliança com você. O cordeiro que foi partido foi Jesus. Partido, moído e sacrificado uma única vez para que Deus fizesse uma aliança com os homens. Uma única, definitiva e eterna aliança. Todas as outras estão incluídas nesta.
     Outra coisa que vale a pena ressaltar é que, segundo alguns historiadores, ao se fazer esta aliança a pessoa passaria por entre as metades dos animais fazendo o formato de um oito deitado. Lembrando um pouco das velhas aulas de matemática na escola, o oito deitado é o símbolo do infinito. Ou seja, Deus fez uma aliança infinita, eterna, sem fim, para sempre. E Ele passou sozinho, mostrando mais uma vez que Ele é fiel para cumprir e que o homem não teria condições de passar por esta aliança. Deus fez pelos dois, pois “Quando Deus fez a promessa a Abraão, como não havia outro maior por quem jurasse, jurou por si mesmo...” (Hb. 6:13). Para não dizer que Abraão não entraria com nada nesta aliança Deus instituiu a circuncisão, que era bem mais simples. Hoje Deus não quer de nós uma circuncisão física, mas no coração (Cl. 2:11).
     Então logo depois daquela visão tremenda, “naquele mesmo dia fez o Senhor uma aliança com Abrão (Abraão)...” (Gn. 15:18), e assim acabaram as trevas da dúvida.