O texto a seguir foi premiado com a segunda colocação em um concurso literário e como fala de liderança resolvi postá-lo aqui com um pequeno acréscimo de texto bíblico no final.
Boa Leitura!
Desde
que nascemos, temos sido cercados de paradigmas em tudo com que nos
relacionamos. Segundo o dicionário Larousse Cultural, a palavra paradigma tem
mesmo sentido de modelo, padrão ou norma. Baseado nisso, podemos dizer que
somos cercados de modelos desde o nosso nascimento. O grande fato é que
conforme envelhecemos, alguns paradigmas, ou boa parte deles, também envelhecem
junto. Devemos aprender a como adquirir sensibilidade para percebermos que
alguns paradigmas estão obsoletos e o seu uso tende a travar um sistema em
constante evolução. Na verdade, é o caso de se ter uma adequação individual de
valores adquiridos e incorporados a nossa personalidade. Digo isto sobre
valores que não são fundamentais, mas que surgem muitas vezes em consonância
com os que são, e por muitas vezes, se interpõe a estes.
Ao
longo da história da humanidade, podemos observar vários estilos de liderança.
O primeiro estilo, que perdurou por muitos séculos, e ainda tende a nos
assombrar, é o baseado no poder ou na demonstração deste. Desde o
Australoptecus até o Homo-sapiens, vemos o líder se colocar nessa posição por
ser o “macho alfa”, o mais forte do bando, o mais forte do grupo. Quando esta
liderança se impunha, ela se valia do governo através do medo, do temor. Este
estilo se contrapõe com a idéia que liderança é a arte de fazer com que as
pessoas façam o que queremos que seja feito. Se os meus liderados fazem o que
eu os direciono para fazerem, por imposição pura e simples. E se elas fazem por
“livre e espontânea pressão”. Então, não estou exercendo nenhuma arte, e sim
demonstração de poder. Este “poder”, instituído ou não, pode me conduzir a
ruína, enquanto líder, e comprometer um objetivo maior.
Historicamente,
temos vários exemplos de grandes lideres que caíram por terra por manterem um
paradigma absolutista e soberbo. Por exemplo, podemos analisar o caso de
Alexandre, o Grande. Este grande líder passou a vislumbrar uma utopia. Ele
queria criar um grande império onde, primeiramente provocando uma união total
de gregos e macedônios de uma maneira geral, sua legitimidade ao trono não
pudesse ser contestada. E logo depois expandir seus domínios a todo mundo de
então. Partiu em direção ao oriente, após conquistar o Egito. Após tirar a
grande Babilônia das mãos de Dario, o medo, passou a não ouvir os constantes apelos
de seus experientes generais. Eles transmitiam o iniciar do descontentamento
das tropas, e deles próprios. Todos queriam descansar, voltar para suas casas e
rever suas famílias. Alguns historiadores relatam que Alexandre estava se
afastando cada vez mais da Macedônia por questões pessoais. Estava cansado da
influencia manipuladora de sua própria mãe. E por conta disto, se não pensava
em voltar nem tão cedo para a Babilônia, cidade que ele mesmo havia declarado
ser sua nova capital.
O fato é
que o uso do poder praticado por Alexandre se contrapôs a um novo paradigma que
surgia. Preferiu não dar atenção ao assessoramento de seus, então fiéis,
generais. O seu desejo insaciável de expandir o reino estava baseado em
questões pessoais, sejam elas quais forem, e não em um objetivo maior. Este
objetivo maior seria o próprio império, e a natural manutenção deste, com o seu
povo feliz e bem cuidado, tendo a maior presença de seu governante, e suas
tropas sempre bem motivadas. Se desse atenção a esses pequenos detalhes, teria
expandido ainda mais seu império. Mas preferiu continuar com o seu modelo de
liderança baseado no seu poder pura e simplesmente, e teve depois de sua morte
prematura e provocada, seu império dividido entre seus generais sem deixarem
vivo nenhum possível herdeiro.
Paradigma
é uma boa palavra. Paradigmas são simplesmente padrões psicológicos, modelos ou
mapas que usamos para navegar na vida. Nossos paradigmas podem ser valiosos e
até salvar vidas quando usados adequadamente. Mas podem se tornar perigosos se
os tomarmos como verdades absolutas, sem aceitarmos qualquer possibilidade de
mudança, e deixarmos que eles filtrem as novas informações e as mudanças que
acontecem no correr da vida.
Outro exemplo que pode ser citado, é um antigo
paradigma em que se via os Estados Unidos como os “donos do mundo”. Exerciam um
poder ameaçador sobre todos. Eram grandes demonstrações de poder militar,
econômico, cultural e social. Tomaram para si a soberba hitlerista que pregava
a existência de uma raça superior. Conceito este, anteriormente humilhado em
plena Olimpíada de Berlim (1936). Jesse
Owens, um atleta americano de origem negra, ganhou simplesmente quatro medalhas
de ouro diante de um Führer enfurecido. Logo após o final da guerra fria viu-se
um império que, pensou-se, tornar-se ainda mais absolutista, já que
aparentemente, não tinha mais adversários. Um ledo engano. As chamadas
economias emergentes começaram a despontar, e o quem temos hoje, é um país que
ainda tem algo a dizer, mas não de uma maneira tão absolutista dentro deste
mundo globalizado. O novo paradigma mostra uma economia mundial altamente
competitiva e que não se dobra aos interesses americanos facilmente. Hoje estes
mesmos americanos, são obrigados a ouvir as chamadas “potencias emergentes”, em
praticamente todos os assuntos. Parafraseando o Presidente Lula, por ocasião do
quase desespero americano por ocasião da ultima crise econômica mundial: “o
Bush que cuide dos seus problemas”.
O uso do antigo paradigma de liderança pode se entender como um
“império de sofismas”. Segundo o mesmo dicionário já mencionado, sofisma pode
se entender por: 1. Argumento que, partindo de premissas verdadeiras, ou
julgadas como tal chega a uma conclusão absurda, mas difícil de ser refutada. –
2. Raciocínio vicioso, cuja base repousa num hábil jogo de palavras; é um
argumento sedutor, aparentemente correto, mas na realidade falso, destinado a
induzir o interlocutor a erro. – 3. Engano, logro. Entendemos também pelo mesmo
dicionário que sofismar é: 1. Enganar ou lograr através de sofismas – 2.
Encobrir com razões falsas. – 3. Distorcer um assunto, dar aparência de verdade
ao que é falso. Podemos então entender que quem pratica este ato exerce a arte
de fazer as pessoas pensarem o que eles querem, e não o que deve ser.
Um sofisma pode ser usado negativamente ou positivamente. Por
exemplo, podemos analisar o caso de uma pessoa que foi pegar o resultado de um
exame. Neste exame foi comprovada a existência de um câncer. O médico pode
“matar” esta pessoa imediatamente, ou conduzi-la a cura. Se o médico, ou
qualquer outra pessoa, começar com negativismo, esta pessoa estará sendo
sofismada. Mas se colocarem para ela que hoje temos tratamentos mais eficazes,
ela poderá se erguer das cinzas como uma Phoenix. Uma liderança baseada no velho paradigma
estará impondo com suas atitudes, sofismas em seus liderados. Tomemos um velho dito popular para analise:
“rapadura é doce, mais não é mole não”. Quando eu faço esta afirmação, estou
chamando a atenção dos ouvintes para o fato de apesar de doce, a rapadura é
difícil de comer, pois é muito dura. Mas se eu uso esta mesma expressão,
invertendo seus adjetivos, a idéia a ser transmitida também vai mudar. Senão
vejamos: “rapadura não é mole não, mas é doce”. Podemos perceber que a rapadura
continuou dura e difícil de comer, mas foi ressaltado que vale a pena tentar,
porque ela, apesar de dura, é doce. Uma só palavra pode levantar ou derrubar o
moral de uma tropa.
Certa
vez, ouvi de um grande amigo: “Um líder só sabe que é um bom líder quando ele
olha por detrás de seus próprios ombros. Se ele for um bom líder verá muitos
seguidores. Caso contrário não verá ninguém” (Sérgio R. Franco). Líderes que sabem que são líderes, não precisam
impor sua liderança. Ela se impõe naturalmente. Um novo paradigma de liderança
mostra líderes que caminham com seus liderados. Líderes que conhecem seus
liderados e estimulam o seu crescimento. Vale lembrar o foi escrito
anteriormente neste artigo: liderança é a arte de fazer com que as pessoas
façam o que queremos que seja feito. Se simplesmente eu dou uma ordem de
maneira curta e grossa, passando a idéia de que a ordem tem que ser cumprida
daquele jeito porque “EU” quero assim, eu não tenho liderados e sim robôs. Mas
se eu faço com que comprem a minha idéia, eu tenho liderados que me seguirão em
qualquer guerra. Para isso eu posso até me valer da arte de sofismar, desde que
positivamente. Um líder só existe na presença de liderados. Eu posso comandar
um grupo qualquer, sem necessariamente liderá-los. Mas quando, mesmo tendo o
direito e o dever de exercer a palavra final, ouço meus subordinados,
independente de origem social, estou valorizando suas experiências e
conquistas. Valorizando os membros do meu grupo, estou abrindo as portas para
uma liderança eficiente, eficaz e próspera. Quem sabe assim venhamos a ter o
mesmo reconhecimento que teve Leônidas, que mesmo sabendo da dificuldade de sua
missão, esteve ladeado por trezentos bravos espartanos, que compraram a idéia
de que valia a pena olhar a morte face a face junto com seu líder, pois este
estava defendendo um objetivo maior e não sua glória pessoal.
Precisamos mudar nossos paradigmas,
nossos modelos, nossas mentes.
“E
não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de
Deus” (Romanos 12:2).
* Ver também: Liderança com Propósitos 1 - Introdução (19/01/13)