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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

EU NÃO GOSTO DE VOCÊ PAPAI NOEL

Gostaria de postar aqui no blog este poema de Aldemar Paiva, que acho muito pertinente.

Eu não gosto de você Papai Noel! Também não gosto desse seu papel de vender ilusão pra burguesia. Se os meninos pobres da cidade soubessem o desprezo que você tem pelos humildes; pela humildade, eu acho que eles jogavam pedras em sua fantasia.

Faz muito, talvez você não se recorde mais, eu cresci me tornei rapaz, sem nunca esquecer daquilo que passou... Eu lhe escrevi um bilhete pedindo o meu presente... a noite inteira eu esperei contente... Chegou o sol, mas você Papai noel, não chegou. Dias depois meu pobre pai cansado me trouxe um trenzinho velho, enferrujado, pôs na minha mão e falou:Tome filho, é pra você. 

Foi Papai Noel que mandou! E vi quando ele disfarçou umas lágrimas com a mão. Eu inocente e alegre nesse caso, pensei que meu bilhete, embora com atraso, tinha chegado em suas mãos no fim do mês. Limpei-o com carinho, dei corda, o trenzinho partiu, deu muitas voltas... O meu pai então sorriu e me abraçou pela ultima vez. O resto eu só pude compreender depois que cresci e vi as coisas com a realidade.

Um dia meu pai chegou assim pra mim como quem tá com medo e falou: -Filho, me dá aqui seu brinquedo, eu vou trocar por outro na cidade. Então eu entreguei o meu trenzinho quase a soluçar, como quem não quer abandonar, um mimo que lhe deu quem lhe quer bem.

 Eu supliquei... Pai! Eu não quero outro brinquedo, eu quero meu trenzinho... Não vai leva meu trem, pai...! Meu pai calou-se e de seu rosto desceu uma lágrima que até hoje creio tão pura e santa assim só Deus chorou, ele saiu correndo, bateu a porta assim, como um doido varrido. A minha mãe gritou: -José! José! José... Ele nem deu ouvido, foi-se embora e nunca mais voltou...

Você! Papai Noel, me transformou num homem que a infância arruinou...Sem pai e sem brinquedo, afinal, dos meus presentes não há um que sobre da riqueza de um menino pobre, que sonha o ano inteiro com a noite de Natal! Meu pobre pai, mal vestido, pra não me ver naquele dia desiludido, pagou bem caro a minha ilusão... Num gesto nobre, humano e decisivo, ele foi longe demais pra me trazer aquele lenitivo; tinha roubado aquele trenzinho do filho do patrão! Quando ele sumiu, eu pensei que ele tinha viajado, só depois de eu grande minha mãe em prantos me contou... que ele foi preso, coitado! E transformado em réu. Ninguém pra absolver meu pai se atrevia. Ele foi definhando na cadeia até que um dia, Nosso Senhor... Deus nosso Pai...Jesus, entrou em sua cela e o libertou  para o céu.

Depois que vi este poema, em uma brilhante interpretação de Lúcio Mauro, o Seu Aldemar vigário, na antológica "Escolinha do professor Raimundo", e rever neste ano através do facebook, resolvi compartilhar este texto com vocês e, deixar uma pergunta no ar: No Natal, quem você fica a esperar?