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terça-feira, 26 de maio de 2015

MÃOS VAZIAS II ... OU, CHEIAS COM O QUE NÃO SE DEVE

     Continuando o raciocínio da última postagem, onde mencionei o texto da peça “mãos vazias”, não somente eram lançados fora os que se apresentavam com as mãos vazias, mas também aqueles que as apresentavam cheias de obras, da carne ou cheias de orgulho próprio. Ou seja, pessoas que trabalham incessantemente na igreja, mas que, no fundo, estão produzindo no Reino tanto quanto que pouco ou nada faz.
     Apesar de lermos em Tiago 2:20 que “a fé sem obras é morta”, não podemos usar deste texto, fora do contexto, como pretexto, para invalidarmos o que Paulo disse: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2: 8-9). Tiago e Paulo não estavam divergindo sobre isso. Na verdade eles apontavam para o mesmo lugar. A salvação não pode ser baseada em obras, porque uns sempre vai fazer mais obras do que outro. Nesse caso os primeiros teriam mais direito do que os segundos? A quantidade de obras não é determinante. Mas segundo Tiago, apesar da quantidade de obras ser um fator determinante, a qualidade delas é um fator a ser observado. “E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?” (Tiago 2:16). É a mesma coisa que falar para um mendigo que Jesus é o Pão da Vida e não lhe der nem uma fatia de pão.
     Mesmo que se faça muitas obras e até se doe valores altos, alimentos, etc, se no meu coração não estiver realmente fazendo isso em amor, ainda assim não adiantaria de nada. “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria” (I Cor. 13:1-3).
Tiago ainda fala sobre irmãos que fazem acepção de pessoas. “Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje, e atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado, porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos? Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam? Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais? Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado? Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redargüidos pela lei como transgressores. Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tiago 2:1-10).
     Quantos irmãos tem menosprezado o ensino bíblico e a inteligência do povo? Quantos tem se deixado impressionar por cargos e patentes eclesiásticas? Honrar grandes celebridades do mundo gospel em detrimento de irmãos menos afortunados tem sido a prática de alguns, infelizmente. Pastores e líderes que vão em reuniões e jantares de grande pompa para serem honrados, ou para honrar alguém, mas não tem a decência de entrar em uma favela para consolar um pai que perdeu seu filho para as drogas, até porque nunca foram antes. Pessoas que preferem falar por trás de um púlpito em um belíssimo templo, mas não tem cheiro de povo, cheiro de ovelha. Não ministram em igrejas pequenas e humildes, nem pagando. Aliás, honram mais o templo, cultuando inclusive seus aniversários, do que as pessoas que entram nesse prédio chamado igreja. Cobram fortunas de cachê para ministrar a Palavra que receberam de graça (“se” receberam). Não sou contra a igreja levantar uma oferta aos ministrantes de fora, principalmente se estes vivem do ministério. Porém se é oferta, deve ser voluntária. Se é cobrada não é oferta, é cachê. Parece até que ouço João Batista pregando no deserto: “Mas, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham ao seu batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mateus 3: 7-8). Ou até meso o próprio Senhor Jesus: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia” (Mateus 23:27).
É necessário que façamos uma auto-avaliação e voltemos à sensatez, ao evangelho puro e simples, de volta a essência. Afinal de contas, apresentar-se diante de Deus com as mãos vazias, ou com as mãos cheias de obras que só valorizaram os nossos nomes, vai dar no mesmo.
     Trago esta meditação debaixo de muito temor no Senhor. Devemos meditar dia e noite, para não perdermos o foco. Se Jesus é o Senhor e eu sou o servo, devo agir do jeito que Ele mandou. Estamos sujeitos a cair nessas coisas e, por isso, devemos ter temor e procurar nos manter no Caminho. Por isso, termino deixando uma pergunta para nossa meditação: Se Jesus voltasse hoje, como nos apresentaríamos a Ele?

Um Grande abraço e...   
Paz de Jesus!

Marcelo Neves




segunda-feira, 18 de maio de 2015

MÃOS VAZIAS

       Pais enterrarem seus filhos foge a ordem natural das coisas. O normal seria os filhos enterrarem seus pais depois de uma farta velhice. Mas, há algumas semanas atrás, fui abatido pela notícia do falecimento de um dos filhos de um querido amigo. Uma família de discípulos que foram crescendo e conquistando juntos várias vitórias em Cristo. Porém, um dos meninos sucumbiu perante as drogas. O sentimento de impotência veio muito forte sobre mim, pois agora, morando distante deles, não teria como ajudar muito nessa hora difícil. Mas o pior de tudo foi o sentimento de que poderia ter feito mais e melhor pelo rapaz enquanto estava vivo, muito embora, tivesse acompanhado eles de perto e, uma semana antes em um encontro com os pais, nos honraram com o testemunho de quanto nossa atuação tinha sido importante para eles.
       Ao meditar sobre o assunto, lembrei-me de uma peça antiga, muito impactante, chamada “mãos vazias”. Nessa peça, Jesus está no grande julgamento onde todos nós passaremos. Ele chama as pessoas uma a uma para mostrarem a suas mãos. Aqueles que apresentam mãos vazias são lançadas no fogo eterno. Igualmente, as pessoas que apresentam obras cheias de orgulho próprio, têm o mesmo destino. Fiquei a pensar no estado em que minhas mãos se encontravam. Estariam elas vazias? Estariam elas cheias de obras infrutíferas, da carne ou cheias de orgulho próprio? Fiquei dias meditando sobre isso. Aliás, ainda estou. A verdade é que fui cheio de um temor no Senhor. O que tenho eu feito?
       O texto de Mateus 25:31-46 é claro quanto a isso. Nesse texto vemos o julgamento em que Jesus separa “ovelhas” de “bodes” e o tratamento dado a esses dois grupos pela atenção que eles deram aos “pequeninos”. Medite comigo nesse texto:
      “E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna”.
Observando este texto, podemos entender que ambos os grupos não entenderam, a princípio, o julgamento do Senhor sobre eles. Jesus falava sobre o bem o ou mal que estes grupos fizeram a Ele próprio. Ambos os grupos perguntaram ao Senhor quando fizeram, ou deixaram de fazer, aquelas coisas. Jesus foi enfático ao revelar que quando fizeram, ou deixaram de fazer aos “pequeninos irmãos”, fizeram ou deixaram de fazer a Ele.
       Como está o nível de preocupação, e ação, que tenho dispensado ao próximo? A salvação tem sido tão suficiente para mim que não tenho tido tempo de levá-la aos outros? Ou se tenho levado, ela tem sido seca ao ponto de não vislumbrar as dores e o sofrimento das pessoas? O texto é claro sobre os níveis de atuação que temos que ter. Ir às favelas, presídios, hospitais, velórios, aos lugares onde há dor. Levar o “Pão da Vida”, sem muitas vezes levar o pão literalmente, chega a ser hipocrisia.        Devemos sentir a dor que o próximo sente. Devemos sim nos alegrar com os que se alegram, mas sem deixar de chorar com os que choram. Afinal: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração” (Eclesiastes 7:2).
       Devemos ir além. Devemos ir além das quatro paredes de um templo e sermos, literalmente, “chamados para fora”. Devemos fazer por onde estarmos no grupo das ovelhas.
       Gostaria de finalizar este texto deixando uma pergunta para a sua meditação: Se o grande dia do julgamento fosse hoje, como você apresentaria?  Você se apresentaria de “mãos vazias”?